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Repercussões do escândalo do aumento à cúpula da prefeitura

19/01/2013

 Publicado no jornal Diário de Guarapuava, 19-20/01/13, ano XIV, ed. 3521, p. A18.

Mais uma vez, a cidade de Guarapuava foi alvo de notícias, especialmente em âmbito regional e estadual. Quem dera fosse por fatos que orgulhassem os seus moradores e eleitores. Quem dera fosse por fatos que enaltecessem o seu povo e o que há de bom na cidade. Quem dera fosse por fatos que contribuíssem para criar ou corroborar uma imagem positiva de Guarapuava. Mas não foi por nada disso. Pelo contrário, foi por algo que manchou a imagem da cidade e atingiu fortemente a autoestima de guarapuavanos.

O fato em questão é o escândalo do aumento de salários do prefeito Cesar Silvestri Filho (PPS), de R$ 12.300 para R$ 21.000; o da vice Eva Schran (PHS), de R$ 6.000 para R$ 10.500; e o dos secretários municipais, de R$ 5.000 para R$ 10.500. Como é de conhecimento público, o projeto de lei 02/2013 foi aprovado em 9/1/13, após nove dias de mandato. É importante ressaltar que não houve unanimidade na votação da Câmara Municipal. Dos vinte e um vereadores, seis foram contrários ao polêmico aumento, a saber: Dr. Geraldo Barbosa (PT), Cleto Tamanini (PTC), Cosme Stimer (PP), Elcio Melhem (PP), Maria José M. Ribas (PSDB) e Milton Roseira Jr. (PSDB).

As repercussões do aumento na imprensa foram inevitáveis. Uma das críticas mais contundentes foi feita pelo jornalismo da RicTV/Record, em nível estadual. A jornalista Joice Hasselmann, ao comentar a notícia, afirmou que “começou mal a atuação dos novos vereadores de Guarapuava”, os quais fizeram a sessão extraordinária, que deveria, segundo ela, acontecer por algo muito importante, e, conforme as suas palavras, foi “importante sim, para o bolso desta turma”. Joice Hasselmann também usou a expressão “vereadores que fizeram o serviço sujo” por terem aprovado os aumentos. Após citar os novos valores dos salários, disse, dirigindo-se aos telespectadores, que era “tudo do seu dinheiro”.

Ainda de acordo com a jornalista, o processo de votação dos aumentos, “além de imoral, é ilegal”, pois “parlamentar sempre vota rejuste para a próxima legislatura”, e enfatizou que “é ilegal votar o aumento do próprio salário, senão vira festa”. Falou que “os vereadores de Guarapuava não estão nem aí para a Lei”, e que “para os vereadores de Guarapuava, a lei orgânica de lá, é maior que a Constituição”. Ela finalizou afirmando que “o Ministério Público vai entrar na jogada e furar o barquinho desses vereadores que brincam com o dinheiro do cidadão da cidade”, pois os princípios da legalidade e da moralidade “foram esmagados pelos vereadores de Guarapuava”. Enfim, vale a pena ver o vídeo, disponível na internet e amplamente divulgado em redes sociais. Aliás, as repercussões negativas do aumento em redes sociais também foram intensas.

Como consequência das repercussões negativas e a pressão popular que naturalmente se avolumou sobre o fato, foi noticiado que parte das organizações sociais de Guarapuava, como o Observatório Social, o Conselho Popular e a Escola de Fé e Política, pedem, agora, a revogação da emenda à Lei Orgânica do Município, feita em dezembro, a qual permitiu que os aumentos fossem feitos em pleno exercício de mandato. Isso é bom. No entanto, sejamos francos, a responsabilidade por todo este processo não é da pobre e infeliz emenda. Quem propôs o aumento são pessoas, são os políticos eleitos, eles possuem nomes e partidos. Parece que após a polêmica, os responsáveis pelo ocorrido, ao invés de assumirem suas ações, silenciam ou sutilmente querem atribuir o fato à emenda do ano passado, o que desviaria a responsabilidade pelo aumento aos vereadores da legislatura anterior.

Diante de tudo isso, a esperança é que a lei maior – a Constituição Federal – prevaleça, e que o foco dos homens e mulheres públicos eleitos seja, em primeiro lugar, trabalhar em prol da população. Quando ainda eram candidatos, todos sabiam o valor dos salários dos cargos eletivos, e isso significa uma aceitação tácita do valor. A população realmente foi surpreendida por esse “avanço” sobre o dinheiro público, por meio da aprovação de altíssimos salários à cúpula da prefeitura.

Enfim, jamais se imaginou que isso aconteceria, conforme discursou na sessão da Câmara o vereador Dr. Geraldo Barbosa (PT): “Jamais imaginei que como vereador o meu primeiro trabalho seria para aumentar os salários do primeiro escalão da Prefeitura. Imagino como tantos trabalhadores anseiam por um aumento como esse que supera os 100%. Votarei contra.”.  ♦

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Vídeo de notícia e crítica sobre o fato: 

joice hasselmann video guarapuava

Outros vídeos:

●  Câmara Municipal reajusta salários em até 100% (TV Globo)
●  Veja cada vereador e seu respectivo voto sobre o aumento (TV Globo)
● Após pressão popular, Organizações de Guarapuava querem revogação de emenda na Lei Orgânica do município (TV Globo)

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